acabou?

Author: Kalós Agathós /

cadê aquela gota que pingava sem parar
espuminha, travesseiro de vidro da memória
retorce lata dourada, vai, retorce
e brinda esse bem me quer

Pipoca-Pedra

Author: Kalós Agathós /


Uma pipoca. Uma pedra. Uma tarde. Uma Mãe. Outra mãe. Um encontro. Um elogio. Outro elogio. Que gracinha. Que branquinho. Que gordinho. Que fofinho. Uma pergunta: Quantos anos? Um ano. O Teu? O Mesmo. Já anda? Não anda? Como não? É estranho? Muito estranho. Ele anda? Anda muito. Desde quando? Nove meses. É verdade? Como não? Já fala? Até alemão. O seu? Só balbucia. Como assim? Nada fala. Que estranho? É estranho? Muito estranho. Come bem? Até picanha. Ele também? Apenas mama. Tua teta. Minhas tetas. Que safado. Será tarado? Bem estranho. É estranho? Muito estranho.  

Tradutor adutor infrator

Author: Kalós Agathós /


Ode 25 de Anacreonte

Ὅταν πίω τὸν οἷνον,
Εὕδουσιν αἱ μέριμναι.
Τί μοι γόων, τί μοι πόνων,
Τί μοι μέλει μεριμνῶν;
Θανεῖν με δεῖ, κἂν  μὴ θέλω.
Τί τὸν βίον πλανῶμαι;
Πίωμεν οὖν τὸν  οἶνον,
Τὸν τοῦ καλοῦ Λυαίου.
Σὺν τῶ̣ δὲ πίνειν ἡμας
Εὕδουσιν αἱ μέριμναι

Tradução 0

Em beber o vinho,
as inquietudes vinificam,
Lamúrias, penúrias,
Importam-me?
Sina – fenecer, sem querer.
Errarei pela vida?
Bebamos, pois, o vinho,
O de Baco, o belo,
Ao beber - em nós –
As inquietudes vinificam

                                                   Chico Xavier
Tradução 1

Quando bebo, dormem-me
os ruins cuidados.
Eu pensar solícito
em carpir meus fados?
Qual é d'isso o préstimo?
Pois (ou queira ou não)
hei de, entre os cadáveres
ter o meu quinhão.
Quando a vida rápida
me abre dous caminhos,
trocarei o flórido
por calcar espinhos?
Reine Baccho! Empinem-se
vasos redobrados!
Quando bebo, dormem-me
os ruins cuidados
                                                      Antonio Feliciano Castilho

Tradução 2
                                                               
Lull'd with wine my cares repose,
What, for me, are cares and woes?
Die I must, though Death distaste;
Why let Life, then, run to waste?
Come, my friends, the goblet share,
Gift of Lyaeus the fair.
We propose, by drinking deep,
Grief and care to lull asleep.
       James Usher
 

O Voyeur

Author: Kalós Agathós /


O pássaro sem pudor me olha. Com medo, mas me olha. Um olho. Um mísero olho. Talvez se sinta protegido com sua semi-ótica.  Penacho ereto, erótico. Nada mais fácil do que a negra proteção. Chumbinho. Espingarda. Repressão. Politicamente correto:  falemos de sua cor (...).

Ismália is malária

Author: Kalós Agathós /



Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
 Alphonsus Guimaraens

Febre, altura, pavor.

Da Sangria do Tempo

Author: Kalós Agathós /

Da Sangria do Tempo
Autor: Ignácio Robledo Ui

Nesses tempos tropicais, el niños e niñas zumbindo a dança das chuvas e as gotas escorrendo pelos maxilares, olhos vermelhos e o corpo pedindo tempo. Dos meus antepassados sangrados até a última gota e experiências pouco metódicas deixo uma receita esses dias.

A Sangria:

Com um punhal faça um golpe certeiro nessa bolha envolvente do tempo, abrindo uma rota de fuga, um corte na pele, deixando vazar o vermelho por entre os dedos, ó tempo, que de gole em gole nos embebeda e turva a jarra que já deve estar à mão.

Corte pedaços de abacaxi pérola, pedaços de maçã verde, pedaços de pêssego em calda, pedaços de laranja descascadas com amor. Sim, com amor, se é que me entendem. Outras frutas a gosto, tudo colocadas na jarra e vinho escorrendo pelas encostas de vidro até a metade, completada com Sprite ou água com gás.

Faça quantas quiser. Acompanhe com o que lhe satisfaça, um nome, um conceito, um discurso, queijos, carnes ou sexo.
Afinal de contas , o que é isso?

Horácio: Ócio e Negócio

Author: Kalós Agathós /

Das coisas (des)importantes: falemos.
Autor: Rui do Jazz

Desaprender o que é tempo e aproveitar o tempo. Saber o que é tempo é negá-lo. Quem nega o tempo, nega o ócio, faz negócio. Horácio. Hora e ócio (brilhante leitura de Vicentis Golfetus). Horácio = Hora e Ócio. Por isso, talvez, Horácio tenha sido poeta. O estranho que a palavra poeta vem do verbo grego poieo (fazer). O homem que dedicava suas horas ao ócio fazia algo. Intrigante isso, para não dizer... que cuzão! 

Conversando sobre Horácio, numa tarde úmida de verão, sentia que... que... estava quente. Encerrei o assunto. Falei do tempo.

 (Rápida reprodução verossímil e sintética do evento)   

_ Como a vida passa, não?

_ É verdade.

_ E esse calor, que coisa maluca!

_ Nem me fale. Não consigo dormir sem ventilador (...)

Sejamos simples: Papinhos e calor = refrescar as ideias


Outra coisa: Ambos perdemos tempo aqui. Eu que escrevo e você que lê. Agora que leu até aqui, não vai se queixar de ler o que Horácio escreveu:



Tu ne quaesieris, scire nefas, quem mihi, quem tibi
finem di dederint, Leuconoe, nec Babylonios
temptaris numeros. ut melius, quidquid erit, pati.
seu pluris hiemes seu tribuit Iuppiter ultimam,
quae nunc oppositis debilitat pumicibus mare
Tyrrhenum: sapias, vina liques, et spatio brevi
spem longam reseces. dum loquimur, fugerit invida
aetas: carpe diem quam minimum credula postero.

Tradução

Não interrogues, não é lícito saber a mim ou a ti
que fim os deuses darão, Leucônoe. Nem tentes
os cálculos babilônicos. Antes aceitar o que for,
quer muitos invernos nos conceda Júpiter, quer este último
apenas, que ora despedaça o mar Tirreno contra as pedras
vulcânicas. Sábia, decanta os vinhos, e para um breve espaço de tempo
poda a esperança longa. Enquanto conversamos terá fugido despeitada
a hora: colhe o dia, minimamente crédula no porvir.

Como aceitar o tempo, meu dileto poeta? Como beber vinho com 33 graus Célsius?



O Valor da Mentira

Author: Kalós Agathós /

Não tenho nada para escrever. Talvez, por isso, escreva. Escrever mal ou bem: não importa! (Será?). Como é delicioso (e enfadonho) deixar rastros de uma imagem a quem me lê. Pois bem: deixe me ausentar - vou discutir um assunto (acredite se quiser na imparcialidade hermética de qualquer  ideia ).  Curiosamente ( quem sabe, um trauma de infância me motive), revelar já na  primeira postagem a essência (?) desse blog: ser um espaço de Mentira e de Valor. Antes: vou confessar - nunca entendi as palavras direito - fui consultar o Houais. Não sei o que é mentira, muito menos o que é valor. Estupefato, descobri que eu e meu blog somos orgânica e inorganicamente mentirosos e dotados de valor. Vamos aos discursos (...)

 

Sobre o Valor:

De acordo, com o dicionário em suas "duas" primeiras acepções (a posição dos enunciados são aleatórias?), valor é:

1 recebimento ou paga em bens, serviços ou dinheiro por algo trocado

1.1 quantidade monetária equivalente a uma mercadoria, em função de sua capacidade de ser negociada no mercado; preço

Ex.: pagou em prestações o v. do eletrodoméstico
 2 preço alto, elevado

Duas Considerações:

1- O que é 1.1? Nunca entendi o que seja 1.1;

2- A palavra evoca acordos humanos para quantificar a importância de um produto, serviço, bem e outros. O que me fascina:  vender bem ou mal um "acordo"... Como é poderoso e estimulante fazer o outro acreditar e desacreditar do valor de meu produto...

Que devaneio... o meu, é claro. Como nunca fui o melhor em nada... gosto sempre dos significados esquecidos ou adiados das coisas. Fujamos, pois, das posições - 1, 1.1 e 2.

Vejamos a acepção  seis e seis ponto um (números sagrados no Orfismo):

6
qualidade humana de natureza física, intelectual ou moral, que desperta admiração ou respeito
Ex.: o v. daquele cientista é inestimável

6.1 ausência completa de medo; valentia, coragem, intrepidez qualidade humana de natureza física, intelectual ou moral, que desperta admiração ou respeito preço alto, elevadoDuas considerações e meia:

1- Adoro o Orfismo ( nada sei sobre isso).

2- A finalidade de pensar a palavra Valor na acepção órfica me é desconhecida.

Conclusão: Valor ---- Preço 1 x Outra coisa 6 (Goleada)


Saiamos da confusão: Pensemos na Mentira (...) Voltemos ao Houais:


2 ato ou efeito de mentir; engano, falsidade, fraude hábito de mentir



Como a mentira é familiar ao valor...(Que coisa). É ela também uma forma de interação... uma ação ... um discurso...Como tal, transformável, amável, inefável.

Vamos à acepção 8 da palavra mentira (Cansei-me do Orfismo...evoco agora o Nouveaulism):

Rubrica: culinária. Regionalismo: Rio de Janeiro.
Biscoito preparado com massa de pão-de-ló, na forma de um pequeno disco; mentirinha

Entre o valor e a mentira: Vale a pança cheia!

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